Modelos de formação cristã e culturas contemporâneas - VII
Conflitos da fé, arte e ciência
Uma das marcas mais
«traumáticas» da relação entre a fé cristã e a cultura, ao longo dos últimos
três ou quatro séculos é, sem dúvida, o conflito entre fé, ciência e arte. O
momento cultural actual, após a superação de posições extremas, quer da
ciência, quer da arte, quer da própria Igreja, parece propício à recuperação do
diálogo entre essas actividades humanas fundamentais.
A ciência, após o abandono
das suas pretensões totalizantes e absolutas, encontra-se cada vez mais aberta
à sua integração numa perspectiva mais abrangente da realidade, sem perder a
sua legítima autonomia de funcionamento. A arte, após um percurso sinuoso pela
destruição e metamorfose de toda a herança cultural, está cada vez mais
consciente da sua relação com essa tradição, assim como com a dimensão
religiosa do ser humano, percorrendo cada vez mais caminhos explícitos de
transcendência. Por seu turno, a Igreja assumiu claramente o facto de que a fé
cristã não precisa de entrar em conflito directo com essas actividades, naquilo
em que a respectiva autonomia o justifica. O respeito por essa autonomia não
contradiz a atitude crente, pois trata-se de dimensões diferentes da actividade
humana.
Por outro lado, cada vez
mais a fé cristã se torna consciente de que não pode ausentar-se da relação
quotidiana com essas – e outras – actividades, uma vez que elas fazem parte da
vida dos seres humanos e esta não pode separar-se da dimensão religiosa ou da
atitude crente. Um dos grandes desafios da cultura actual à transmissão da fé
consiste, precisamente, na necessidade de relacionar de modo fértil a vivência
da fé com essas realizações culturais que são, sem dúvida, das mais profundas
que uma cultura pode conhecer, a ponto de serem, muitas vezes, identificadas
com a própria cultura. A transmissão da fé terá que, por um lado, aprender com
o contributo de todos os humanos que se dedicam a essas actividades e, por
outro lado, deverá orientá-las para a sua verdadeira finalidade, colocando-as
ao serviço da humanização de todos os seres humanos e, desse modo, ao serviço
da construção do Reino de Deus.
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