Jesus fez-se História
Pelo mistério da Incarnação, Jesus
inseriu-se numa história e num contexto cultural bem definido. Neste sentido,
não foi diferente de nenhum de nós. Todos estamos ligados a uma terra, um credo
e uma família. E a nossa vida é muitas vezes moldada pelo ambiente circundante
em que vivemos. As nossas acções são reflexo do ambiente cultural e cultual em
que estamos inseridos.
Jesus, o Filho de Deus, foi construindo
o seu “álbum de memórias” ao longo de 33 anos que teve como pano de fundo várias
terras da Judeia e da Galileia. De entre as várias localidades poderíamos
destacar Belém, Jerusalém e Nazaré. Isto porque Jesus nasceu na Palestina, em
Belém; viveu em Nazaré e percorreu todo o território da Galileia à Judeia.
Acabou por ser crucificado às portas de Jerusalém, numa pequena colina chamada
Calvário (ou Gólgota em aramaico).
Belém é um território
da palestina sob o regime israelita e significa precisamente “a casa do pão”. Vem como que lembrar a
história do povo de Israel que foi obrigado a partir de sobressalto, apenas
levando o pão ázimo. O pão era o principal alimento de Israel, e por isso
quando um judeu queria agradecer a Deus pelo alimento, levava o pão até ao
templo.
Nazaré era, naquela
altura, uma pequena aldeia com pouca importância, ao ponto de se afirmar: “de
Nazaré pode vir alguma coisa boa?” (Jo 1, 46). Se, por um lado, isto era
verdade, pelo outro, em termos messiânicos, adquiriu bastante valor. Esta era a
povoação onde viviam os descendentes da família do rei David, entre os quais se
inclui José e Maria. Foi aqui que Maria o Anjo interpelou Maria e ela
glorificou o Senhor (Jo 1, 46-56); é também em Nazaré que a Sagrada Família se
instala e Jesus passa grande parte da sua vida.
Em termos políticos e religiosos importa ter noções, ainda que breves. Quanto
às classes sociais sabemos, pelo Novo Testamento, que seriam quatro: alta classe (onde se inclui os
comerciantes, os escribas, doutores da lei e sumos sacerdotes); média classe (seriam os pequenos
comerciantes, funcionários do estado, os publicanos, os escribas e os
fariseus); classe pobre (os
pastores, assalariados… o povo em geral); classe
marginalizada (seriam essencialmente os pobres, viúvas, órfãos e doentes.
Naquela altura, todos os que se encontravam nesta situação não pertenciam à
sociedade e não tinham quaisquer direitos. Daí a preferências das primeiras
comunidades por esta classe social (cf. Tg 1, 25)).
Em termos religiosos havia cinco grupos religiosos: fariseus (que se consideravam os santos e puros, guardiães da
verdadeira fé cristã); saduceus (eram
conservadores e acreditavam na ressurreição. (Mt 22, 23)); essénios (eram monges eremitas que viviam nas grutas de Qumram,
junto ao Mar Morto); samaritanos (grupo
separado dos judeus e que viviam em constante confronto com eles); zelotas (eram um dos vários grupos de
resistência política contra os romanos).
Foi nestas circunstâncias que Jesus
viveu a sua vida: rodeado de tensões tanto ao nível político como ao nível
religioso. Viveu ainda num clima de expectativa, de ansiedade pela vinda do salvador
que iria libertar o povo de Israel do domínio romano. Foi por isso que quando
Cristo falou do Reino, muito entenderam num sentido político e não em termos
escatológicos. Apesar de tudo, Jesus soube inculturar-se e não pretendeu fugir
do mundo, mas antes comprometer-se com ele e apresentá-lo a Deus.
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