Eu estou sempre convosco

É sintomático que as últimas palavras de Jesus sejam: «Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos»!  Note-se que o verbo está no presente. Não é uma promessa, estarei, mas sim uma realidade atual, estou. Esta voz que interpela tem, no quotidiano/presente, a sua caixa de ressonância mais elementar e o seu palco. É aqui que se percebe e se diz. É aqui que poderá ser escutada e correspondida. A relação com a alteridade divina, o totalmente outro, que me atrai e me implica, com tudo o que ela tem de fascinante e de tremendo, joga-se no espaço vital da consciência que temos de nós próprios como corpo/carne sensível e relacional, na exposição quotidiana às possibilidades e dramas da liberdade. E é aqui que constatamos que Deus não envolve menos do que a totalidade do que somos: corpo, afetos, desejos, inteligência, liberdade, imaginação, vontade... E também não nos pede nada menos do que começarmos por ser, no mínimo, realmente humanos.
É por isso que a fé cristã implica com os conceitos de ser humano, de Deus e, admire-se!, de religião. Crer ao estilo cristão configura um determinado conceito de pessoa, assume um determinado Deus, e estabelece uma demarcada forma de ser crente. Sempre em tensão entre a verdade e a justiça, entre o humano e o divino.

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