Educar no Mistério

A catequese e a celebração da fé não podem viver uma sem a outra dentro da Igreja. Em boa verdade, uma catequese que se dissocie da experiência cristã vivida em comunidade, é uma catequese alienada, exterior à realidade dessa comunidade e cujos conteúdos não são mais do que simples informações de cariz religioso. Ainda que a ação catequética seja fundamental, esta deve também ser vivida e celebrada nas ações litúrgicas, momento onde todos os cristãos celebram o Mistério Pascal.
Aliás, é aqui, na realidade do Mistério que radica a solução desta dificuldade. Não podemos continuar a dissociar as diversas dimensões da pastoral. Muitas vezes, após o século XVI e fruto das mutações culturais operadas na Europa, procurou-se afirmar a fé com expressões isentas de erro, formalmente corretas. Esta realidade, a ortodoxia da afirmação, levou a que se separassem as diversas disciplinas teológicas. Veja-se todo o ambiente pré-concílio Vaticano II: movimento bíblico, movimento catequético, movimento litúrgico…
A solução está na redescoberta daquilo que é o Mistério Cristão, aquela realidade onde o crente habita e da qual faz parte.
 A Liturgia é, na verdade, a fonte e o cume de toda a vida cristã (cf. LG 11), onde os catequizandos experimentam e vivenciam em comunidade o que ouvem na catequese e descobrem sinais visíveis da experiência de Deus: «A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental. Pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens» (CCE 1074).

Por sua vez, a Igreja, que transmite a fé como dom do Senhor, que está presente na Sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas (cf. SC 7), acredita ser importante que os cristãos participem ativa, mas também conscientemente, na liturgia, onde celebram a presença salvífica de Cristo. Assim, à catequese, como caminho de fé e inserção na vida eclesial, compete iniciar o catequizando na liturgia, favorecendo o conhecimento dos significados litúrgicos e sacramentais, de forma a que a celebração dos ritos cristãos sejam, de facto, expressão dum caminho de fé que garanta a verdade e a autenticidade. Não se trata apenas de uma instrução sobre um determinado objeto religioso, mas uma iniciação viva e orante que deve levar à interiorização do culto litúrgico: «a vida sacramental empobrece e bem depressa e se torna um ritualismo oco, se ela não estiver fundada num conhecimento sério do que significam os sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não for haurir vida numa prática sacramental» (CT 23). A catequese é uma aprendizagem dinâmica da fé, da vida cristã, e da celebração da eucaristia, e não pode prescindir de momentos celebrativos e festivos fortes, porque sem expressão de fé não há comunicação nem amadurecimento da fé.
 Deste modo, a catequese deve conduzir o catequizando a uma experiência viva da presença e ação de Cristo na vida da Igreja, de modo a poder levar a um seguimento firme do Senhor e um compromisso missionário. Quando as pessoas são evangelizadas a partir da sua própria vivência cristã e, a partir daí, se sentem chamados a se identificarem a  Cristo, a liturgia e os sacramentos assumem nas suas vidas um novo valor e um sentido diferente.


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