Maturidade de Fé
A educação da fé procura, pela interação entre
a graça divina e a ação humana, a profissão de fé viva, explícita e atuante
(DGC 66). O que é o mesmo que fizer uma fé adulta
e responsável.
A vida adulta é entendida muitas vezes como
uma fase de estabilidade, pelo que essa estabilidade é, ela mesma, uma
característica de maturidade.
Um adulto é alguém que já fez uma primeira unificação da sua personalidade. Todas
as dimensões da sua personalidade estão harmoniosamente interligadas. Um
cristão adulto faz esta harmonização a partir da sua decisão livre de aderir a
Jesus Cristo, pela fé. Esta conversão compromete livremente a cada pessoa que
vai adequando a sua conduta na direção daquilo que vai descobrindo como vontade
de Deus. A vida do cristão adulto não é fruto de um determinismo
circunstancial, mas sim de um permanente exercício de liberdade. Escolher, em
cada caso, de acordo com a vontade de Deus implica o manuseamento de muitas
variáveis. Este exercício de discernimento é fruto e gerador de uma personalidade
crente equilibrada e madura.
A liberdade e entrega do adulto, geradores de profundas convicções, leva-o a viver
com estabilidade, e não ao sabor dos acontecimentos. A coerência cristã deriva
das profundas convicções evangélicas que dão forma a uma fé adulta.
Embora o Cristianismo não se reduza a uma
mensagem ou a um conjunto de conhecimentos, o adulto assimilou uma estrutura de
conteúdos de fé capaz de dar consistência às atitudes e aos comportamentos.
Este maturidade é fruto de um itinerário de
crescimento, já realizado, no seio de uma comunidade cristã, acompanhado por um
catequista, e onde a sua vida pessoal foi e é relida à luz do Acontecimento
pascal de Jesus Cristo.
O adulto é, por fim, responsável e sabe-se consciente por todas as dimensões da sua vida
e atitudes, pelo que o seu assumir da vida cristã implica a vivência de uma
vocação. A vocação faz de cada cristão responsável por um projeto de vida, fiel
à sua identidade de filho de Deus. Este compromisso deriva da sua identificação
com o ser e a missão da Igreja, que se traduz no cumprimento da sua
responsabilidade eclesial na circunstância e condição a que o Senhor o chamou.
Como membro de uma comunidade, o cristão vive
em Igreja, comprometido com o Reino de Deus: é um ser socializado. Por isso, é
capaz de estar inserido no mundo, nos diversos âmbitos – família, cultura,
economia, política e outras –, como seguidor de Jesus Cristo, colaborando com
todas as pessoas para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Esta maturidade consegue-se mantem-se através
de uma espiritualidade mistagógica, onde cada crente «aprofunda mais o mistério pascal e procura
traduzi-lo cada vez mais na vida pela meditação do evangelho, pela participação
na Eucaristia e pelo exercício da caridade» (RICA 37).
O adulto é também aquele que vive adaptado à
realidade que o circunda e às suas próprias capacidades. Esta tomada de
consciência dá ao cristão adulto uma convicção firme da sua humildade, que não
é falso comodismo, mas sim o assumir que só com a graça de Deus é capaz de
viver a sua fé, fiel e livremente.
Sabe-se criatura diante do Criador, filho de
Deus Pai. Reconhece que só em Cristo pode obter a salvação e que a sua
santificação é resultado da ação do Espírito Santo.
Esta relação com Deus dá ao crente a capacidade
de perceber a sua própria vida e a história da humanidade integradas na
realização de um projeto que não é seu, mas de Deus. É a referência a este
projeto que vai dando sentido e significado aos acontecimentos, mesmo aqueles
que parecem negativos podem ser assumidos à luz desta visão mais ampla.
É também à luz deste projeto amplo e global,
que tem Deus como origem e meta, que o adulto encontra resposta e sentido para
as grandes perguntas existenciais que reiteradamente atormentam o ser humano.
Comentários
Enviar um comentário