Algumas Opções de Fundo!

Nos tempos que correm, considero que a Catequese terá que fazer algumas opções de fundo:
- A primeira opção é uma Catequese ao serviço da Iniciação Cristã. A catequese específica que se há-de realizar é a de uma autêntica iniciação ordenada e sistemática à revelação divina que Deus transmite à humanidade, em Jesus Cristo, conservada na Igreja e nas Sagradas Escrituras. Esta revelação é anunciada de geração em geração através de uma tradição viva, da qual a catequese é parte integrante(cf DGC 66). A catequese de iniciação, dentro do processo evangelizador, é o momento em que se estrutura a conversão a Jesus Cristo, num esforço de fundamentação da primeira adesão(cf DGC 63).
O Directório Geral da Catequese, no número 66, diz expressamente: «a catequese é, assim, elemento fundamental da iniciação cristã e está estreitamente ligada com os sacramentos de iniciação, de modo particular com o Baptismo, "sacramento da fé". O elo que une a catequese ao Baptismo é a profissão de fé, que é, ao mesmo tempo, o elemento interior deste sacramento e o objectivo da catequese. A finalidade da acção catequética consiste precisamente nisto: favorecer uma profissão de fé viva, explícita e actuante. Para alcançar esta finalidade, a Igreja transmite aos catecúmenos e aos catequizandos a sua fé e a sua experiência do Evangelho, a fim de que estes assumam como sua e, por sua vez, a professem»(DGC 66). Por isso, a catequese autêntica é sempre iniciação cristã.

- A segunda opção será pela significatividade da mensagem. Julgo estar ultrapassado o tempo em que para se ser bom cristão bastava dominar intelectualmente os conhecimentos doutrinais. Faz falta algo mais. A mensagem cristã deve poder ser vista por cada crente como uma abertura para a sua vida, uma resposta às suas dúvidas e anseios, uma fonte de valores e de plenitude de vida. Em síntese: a mensagem deve ajudar a descobrir o sentido e o significado da vida. A mensagem cristã deve tocar o saber, mas também o sentir e o querer.

- Um dos flagelos do cristianismo actual é a separação entre a fé e a vida: uma fé que não gera cultura. É certo que o DGC pede que ao cristianismo que se seja capaz de se inculturar nas diversas culturas, potenciando-as e iluminando-as. No nosso contexto, ganham especial destaque os fenómenos da pluralidade cultural, a modernidade e a pós-modernidade (com tudo que isso acarreta), o destaque da cultura mediática, a globalização de fenómenos culturais. Aqui a catequese vê a sua missão redobrada, pois tem de ser capaz de estar, dizer-se e propor-se.

- A catequese é, essencialmente, um processo comunicativo, e a comunicação é vista como uma das realidades mais determinantes e mais estudadas na actualidade, às quais a catequese evangelizadora não se deve alhear: deve repensar a sua identidade e a sua missão neste contexto e à luz das novas exigências. No âmbito catequético destaca-se sobretudo a necessidade de respeitar as regras e a ética da comunicação. No centro desta problemática encontra-se o tema da linguagem e das linguagens da catequese, um problema que toca a medula da comunicação catequética e que está muito longe de ter sido ainda resolvido. Ainda não são frequentes bons exemplos da utilização da linguagem da fé nos nossos ambientes eclesiais.
Por outra parte, experimenta-se também com força a necessidade de promover uma pluralidade de linguagens, superando assim a tradicional unilateralidade da linguagem expositiva magistral e valorizando mais o emprego das linguagens não verbais: a imagem, o som, o símbolo, a expressão corporal, os espaços, e muitas outras.

- Por último, a comunidade cristã, nas suas diversas modalidades, apresenta-se hoje como o lugar por excelência da catequese, enquanto permite uma autêntica experiência de vivência cristã e de aprofundamento na fé (DGC 158, 254). A catequese é, pois, uma actividade de todos os cristãos. Por isso, a catequese não se deve reduzir, ou ser reduzida, a uma actividade individual de uns quantos ou de alguém em particular: a comunidade é o lugar, meta e âmbito da catequese. Esta consciência abre a possibilidade de novos lugares ou vias para realizar a missão catequética.
Talvez seja altura das pequenas comunidades, dentro da Comunidade, assumirem todo o seu valor e potencial e serem, elas próprias, os grandes lugares catequéticos.
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(c) 2005 - Luís Zilhão

Comentários

  1. Opções de fundo:
    Sou um catequista com relativa pouca formação para entrar nas grandes questões e opções da e para a catequese.
    No entanto, alguma sensibilidade e reflexão levam-me, no âmbito desta «discussão» a tentar perceber se não pretendemos apenas descobrir o «sexo dos anjos» ... não me levem a mal ... eu sou mesmo assim ... mas isto é só fruto da paixão e do entusiasmo.
    A questão começou, para mim, da seguinte forma: «eu amo Jesus e não consigo «dá-lo» minimamente aos outros» porquê?
    De repente, e já que o tema central é «a catequese em discussão», proponho (achas para a fogueira) algumas questões, para ir conhecendo a opinião daqueles que tiverem a caridade de me dar troco.
    Assim, ainda não percebi a quem se destina a catequese de iniciação? É para todos? Porquê?
    Para os que eventualmente me dirão que não é para todos, pergunto: mas não é essa a prática generalizada? Teremos algum dia coragem de «avaliar» crianças antes de as acolhermos na catequese de iniciação e as reencaminharmos para os espaços certos? Teremos sensibilidade e capacidade para criar esses espaços?
    Numa catequese de iniciação que não inicia (dizem alguns especialistas e eu acredito), num itinerário e ambiente como o nosso as crianças são iniciáveis?
    Mesmo com outro itinerário não estaremos a infantilizar o que é para adultos e, como o que é para adultos não é infantilizável, não estaremos a «perder» tempo e objectividade?
    É verdade que não somos o Semeador, mas o que significa, por vezes, quando afirmamos que «não nos compete colher»? Ou quando dizemos, «fica lá sempre qualquer coisa»?
    Tudo isto não é mentira mas, será, sempre, intelectualmente sério? Não funcionará por vezes como desculpa para não dizermos, apesar do muito bom que muitos fazem, da nossa própria mediocridade e das opções que no passado e no presente fizemos e fazemos?
    Um «contentamento descontente» ? ?
    Será legítimo esperar que a catequese para «todos» não seja o espelho duma sociedade que temos?
    Melhor, não será a catequese que temos o espelho da igreja que somos?
    Eu sei, já não vivemos na cristandade ... mas não é da cristandade que vimos?
    Eu gostaria de aprender e trocar ideias, sobre com quem fazer, depois o que fazer e só no fim como fazer catequese!!!
    Desculpem o texto e por amor de Deus não percamos a esperança.
    Nuno Pires

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  2. Nuno,
    Obrigado pelas sua «achas»! Fazem-nos pensar...
    Julgo que no caminho que estou a fazer sobre a pedagogia para a iniciação cristã poderá ver algumas das suas questões esclarecidas. Isso irá dar lugar a outras dúvidas e conversas, o que é óptimo.

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