A Liturgia na educação da Fé
A
Igreja, através da sua ação profética, procura anunciar a Palavra de Deus, não
como uma teoria que há que aprender, mas como uma realidade que se experimenta.
Dito de outra forma, ao anúncio da Palavra corresponde o devido acompanhamento
que quem a recebe, para que possa dar o livre assentimento da fé. O Concílio
Ecuménico Vaticano II, na Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina di-lo
deste modo: «A Deus que revela é devida a “obediência da
fé”; pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo “a Deus
revelador o obséquio pleno da inteligência e da vontade” e prestando voluntário
assentimento à Sua revelação» (DV 5).
Este facto coloca à educação da fé algumas
questões que importa ter presente:
A primeira
tem a ver com a evidência de que a educação acontece pela “obediência”, ou
seja, pela escuta da Palavra. Esta não é um mero aglomerado de letras ou sons,
mas uma Pessoa, Jesus Cristo. Escutar a Palavra é aceitar estar em intimidade
com Jesus Cristo, deixando-se transformar pelo que Ele diz e faz. Mas quais são
as palavras e os gestos que nos transformam? Aqueles que são realizados pelas
pessoas por quem temos algum afeto, que amamos! A inteligência deixa-se iluminar
pelo Amor e a vontade quer fazer aquilo desejamos, porque O amamos.
A segunda
questões a ter presente tem a ver com o modo como se educa o afeto. Não me
refiro às simples emoções, mas sim ao afeto como dimensão da pessoa que nos faz
querer e desejar algo. O afeto educa-se pela familiaridade: aprendemos a amar
com o contacto assíduo e gozoso! Então, como havemos de educar o afeto para que
se aprenda a amar Cristo? Pelo convívio assíduo com Ele, ali onde Ele está real
e sacramentalmente presente, na Liturgia, sobretudo eucarística, pois «Onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, eu estou no meio deles» (Mt 18,
20). A Liturgia desempenha, então, um papel central na educação da fé, pois é
ela que permite que alguém se deixe enamorar por Cristo, ver a Sua beleza e
querer aderir a ele.
Chegamos então ao terceiro aspeto, o da liberdade. Esta nunca pode ser violentada nem
ignorada, até porque a fé é a adesão com que cada pessoa se entrega a Deus...
As palavras e ensinamentos serão “preceitos” distantes e frios, se não forem as
palavras de Alguém que se dá a conhecer por amor. E o que é frio e distante não
promove a adesão, antes afastamento e até desafeição. Os valores evangélicos
que se procuram ajudar a descobrir na educação da fé também não serão acolhidos
se antes não houver um adesão afetiva com Cristo e o desejo de querer segui-Lo.
Logo, a liberdade para aderir a Cristo promove-se e educa-se na ação litúrgica.
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