Uma Quaresma que prepara a Páscoa
Os tempos hodiernos oferecem uma mutação no âmbito dos
símbolos. Surgem novas ideias e, com elas, novos sentimentos entraram em jogo.
Uma instituição não evolui porque os seus membros envelheçam, mas sim porque as
relações mútuas entre eles se alteram. As relações são a chave da mudança.
Urge, portanto, encontrar maneiras de nos reencantarmos com aqueles que
connosco caminham. É nesta conversão contínua, como resposta aos estímulos
quaresmais, que reside a capacidade de subsistência cristã; a adequação aos
apelos de Deus é a bóia que nos permite flutuar no meio do caudal agitado,
símbolo de um contexto de elevada transitoriedade e apego ao rentável e eficaz
em detrimento, muitas vezes, do verdadeiro e honesto.
Só a valorização da identidade consegue fazer face à
complexidade. Aqui reside um dos grandes desafios da Quaresma: é que é preciso
lutar sem desfalecimento contra a inação, contra o obscurantismo e contra a
arrogância. À fé cristã pede-se que saiba articular-se com os outros pontos de
vista, de modo a que se possa traçar o rumo mais adequado a cada momento, em
cada circunstância da interação com a realidade. O mal não está simplesmente em
haver pessoas que não acreditam em Deus, mas sim em haver pessoas que acreditam
tanto nEle que não deixam espaço para a procurar « a todo o momento
os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa
responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens
acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas»(GS
4).
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