A Força do Símbolo
A liturgia, como ação
eminentemente simbólica que é, educa sobretudo pela força do símbolo. Este, ao
conectar com o mais profundo de cada pessoa, é um instrumento pedagógico
fantástico para promover a conversão a Jesus Cristo, desde que nos deixemos
transformar por aquelas realidades que são símbolos da ação salvífica de Deus
realizada por Jesus Cristo, sob a ação do Espírito Santo.
Os símbolos, como
realidades polissémicas que são, precisam de ser “guiados” na sua compreensão,
para que não nos fiquemos na dispersão de significados. Por isso, «cada celebração
sacramental é um encontro dos filhos de Deus com o seu Pai, em Cristo e no
Espírito Santo. Tal encontro exprime-se como um diálogo, através de ações e de
palavras. Sem dúvida, as ações simbólicas são já, só por si, uma linguagem. Mas
é preciso que a Palavra de Deus e a resposta da fé acompanhem e deem vida a
estas ações, para que a semente do Reino produza os seus frutos em terra boa.
As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: ao mesmo tempo,
a iniciativa gratuita de Deus e a resposta de fé do seu povo» (CCE 1153).
Uma celebração sacramental é, então, tecida de sinais
e de símbolos. Segundo a pedagogia divina da salvação, a sua significação
radica na obra da criação e na cultura humana, determina-se nos acontecimentos
da Antiga Aliança e revela-se plenamente na pessoa e na obra de Cristo.
Sinais do mundo dos homens. Os
símbolos ocupam um lugar importante na vida humana. Sendo a pessoa humana um
ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades
espirituais através de sinais e símbolos materiais. Como ser social, a pessoa
tem necessidade de símbolos para comunicar com o seu semelhante através da linguagem,
dos gestos e de ações. O mesmo acontece nas suas relações com Deus.
Deus fala-nos através da criação visível. O cosmos
material apresenta-se à inteligência do homem para que leia nele os traços do
seu Criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e os
frutos, tudo fala de Deus e simboliza, ao mesmo tempo, a sua grandeza e a sua
proximidade.
Enquanto criaturas, estas realidades sensíveis podem
tornar-se o lugar de expressão da ação de Deus que santifica os homens e da
ação dos homens que prestam a Deus o seu culto. O mesmo acontece com os sinais
e símbolos da vida social: lavar e ungir, partir o pão e beber do mesmo copo
podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão da criatura para
com o seu Criador.
As grandes religiões da humanidade dão testemunho,
muitas vezes de modo impressionante, deste sentido cósmico e simbólico dos
ritos religiosos. A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos
da criação e da cultura humana, conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça,
da nova criação em Cristo Jesus.
Sinais da Aliança. O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos
distintivos, que marcam a sua vida litúrgica: já não são unicamente celebrações
de ciclos cósmicos e práticas sociais, mas sinais da Aliança, símbolos das
proezas operadas por Deus em favor do seu povo. Entre estes sinais litúrgicos
da Antiga Aliança, podem citar-se a circuncisão, a unção e a sagração dos reis
e dos sacerdotes, a imposição das mãos, os sacrifícios e sobretudo a Páscoa. A
Igreja vê nestes sinais uma prefiguração dos sacramentos da Nova Aliança.
Sinais assumidos por Cristo. Na
sua pregação, o Senhor Jesus serve-Se muitas vezes dos sinais da criação para
dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza as suas curas ou sublinha
a sua pregação com sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo
aos factos e sinais da Antiga Aliança, sobretudo ao Êxodo e à Páscoa, porque
Ele próprio é o sentido de todos esses sinais.
Sinais sacramentais. Depois do Pentecostes, é através dos sinais sacramentais da sua Igreja que o Espírito Santo opera a santificação. Os sacramentos da Igreja não vêm abolir, mas purificar e assumir, toda a riqueza dos sinais e símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e figuras da Antiga Aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e prefiguram e antecipam a glória do céu.
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